A intensificação das mudanças climáticas aumentam os altos custos a produção alimentícia em escala global. Neste contexto a agricultura molecular surge como uma tendência que, num primeiro momento, pode parecer muito distante do nosso presente, mas que é uma realidade cada vez mais próxima.
Antes de começar a explicar tudo sobre esse tema, é importante saber que esse artigo faz parte de uma série de cinco textos onde vamos explicar os seguintes tópicos: agricultura molecular, CRISPR, GMO (sim, os transgênicos), fermentação de precisão e alimentos cultivados.
Como vemos em nossa enquete feita no Linkedin, a maioria das pessoas ainda se confunde sobre o que significa cada termo:
Afinal, o que é agricultura molecular?
A agricultura tradicional existe há cerca de 12 mil anos e é bem mais simples de compreender: plantar uma semente em solo saudável, irrigar, proteger contra pragas e, na hora certa, colher e consumir.
Já a agricultura molecular é outra história.
Essa tecnologia consiste basicamente na engenharia de plantas para produzir proteínas ou outras moléculas de interesse. Ela é diferente dos alimentos cultivados porque não se trata de pegar células animais e multiplica-las em laboratório, mas sim de usar plantas como biorreatores para que elas multipliquem células com as moléculas de interesse.
Por exemplo: a agricultura molecular pode ser usada para produzir proteínas lácteas idênticas às encontradas no leite da vaca (em essência), fazendo produtos lácteos “ordenhando” uma planta em vez da vaca.
Para clarear ainda mais, vamos resumir: a ideia é modificar geneticamente as plantas para que suas células se tornem as fábricas da molécula que se deseja.
Quando a agricultura molecular entra em cena?
Essa forma de produção de alimentos já está sendo vista como uma das melhores formas para mudar nosso sistema alimentar, diminuindo o consumo de produtos de origem animal com alta pegada de carbono para alternativas mais sustentáveis.
Além disso, o mercado consumidor que procura não mais comprar alimentos de origem animal continua crescendo. Para você ter uma ideia, o mercado vegano global faturou mais de 44 bilhões de dólares em 2022.
Não suficiente, para a produção de vacinas e outros produtos farmacêuticos necessários a agricultura molecular também é uma solução viável. Mas aqui já estamos falando de algo diferente: o molecular pharming.
A agricultura molecular vem do inglês molecular farming, já o Pharming aqui vem justamente de pharma, ou seja, farmácia. E se refere a medicamentos, antibióticos e vacinas que estão sendo desenvolvidas a partir de plantas geneticamente modificadas.
Benefícios da agricultura molecular:
Os principais benefícios estão no menor impacto ambiental em comparação à produção dessas moléculas por animais e no custo mais baixo em relação à fermentação de precisão. Também há a possibilidade de acelerar o processo de melhoramento de plantas, já que as técnicas tradicionais de melhoramento genético podem demorar anos para desenvolver uma nova variedade de planta com características desejáveis através dos cruzamentos entre espécies, já com a agricultura molecular, basta inserir os genes desejados diretamente na planta.
E as desvantagens?
Bom, como toda nova tecnologia, esse processo ainda é caro. Em muitos casos é preciso ter instalações de refrigeração e estufa que ainda são caras de operar.
Além disso, a estabilidade da proteína muda ao longo do tempo mesmo com a refrigeração. A agricultura molecular também não é adequada para produção de proteínas em grande quantidade. Isso porque o produto precisa ser processado de imediato, pois o armazenamento causará a degradação do tecido vegetal.
Futuramente acredita-se que será muito mais barata que a fermentação de precisão, já que os custos de usar plantas como biorreatores são menores que os de usar equipamentos, mas a produtividade nesse momento ainda é baixa.
Outra questão que precisa ser discutida são os alergênicos. A Moolec, da foto acima, produz proteína de porco em soja. Como fica o consumo por pessoas que querem consumir porco, mas são alérgicas à soja?
E mais, como regulamentar essas novas espécies que são em parte plantas, mas também são em parte animais?
Quem mais já está fazendo
A Miruku, da Nova Zelândia, já está desenvolvendo proteínas lácteas em plantas e tem como principal objetivo fornecer aos consumidores laticínios nutritivos e funcionais sem origem animal.
Outro exemplo é o negócio norte-americano chamado Mozza, uma companhia que tem como missão fazer queijo a partir de plantas. E, mais do que isso, um queijo que tem sabor e textura indistinguível do queijo de origem animal.
Nem só de células animais vive a agricultura molecular, a israelense Pigmentum, por exemplo, cultiva ingredientes alimentícios de alto valor como vanilina, substância do aroma de baunilha, e até corantes usando alface como hospedeiro.
E o upcycling?
A agricultura molecular abre ainda mais portas para o upcycling.
Com a combinação agricultura molecular + upcycling, muitas partes de plantas consideradas resíduos ganham uma nova vida. Quais novos produtos poderemos produzir a partir desses novos resíduos? Quantas novas combinações de moleculas e plantas podem surgir?
É o futuro batendo à porta
Ou seja, no futuro deveremos ver produtos como esses nas prateleiras dos supermercados que frequentamos.
Esse é só o primeiro de uma série de posts. Quer saber o que é agricultura molecular, CRISPR, transgênicos, fermentação de precisão e alimentos cultivados? Então fica de olho para não perder nenhum!
Fontes: VeganBusiness; Agerfundernews.com; Sifted.eu; ScienceDirect.com; GreenQueen.com; Agropos.com; TheSpoon.tech, Statista, Food Navigator