Apesar do número de pessoas que fumam cigarros esteja diminuindo consideravelmente, as empresas de tabaco ainda venderam aproximadamente 5,2 trilhões de cigarros em 2020. O que fazer com o tabaco não vendido e todo o resíduo gerado? Upcycling de tabaco e das bitucas!
Engana-se quem pensa que indústrias de tabaco só produzem cigarros. Há toda uma gama de produtos fabricados com essa planta e, no meio disso, há também muito desperdício.
Só o Brasil, no ano de 2021, registrou uma produção de mais de 700.000 toneladas de tabaco. Ao mesmo tempo que isso significa lucros econômicos para o país também significa boa parte das plantações de tabaco sendo descartadas.
Mas o upcycling vem para mostrar, mais uma vez, como esse tabaco que é desperdiçado pode ganhar uma segunda chance e se transformar em novos produtos.
Produtos que vão te surpreender, com certeza!
Mas isso é seguro?
Verdade seja dita, não existe forma segura de consumir o tabaco e é importante deixar isso claro. Todas as formas de utilização dessa planta, seja no cigarro ou em alguma receita liberam nicotina para o nosso sistema nervoso e isso traz um risco de causar dependência.
Inclusive, muito se fala sobre as doenças provocadas pelo cigarro aos fumantes, mas os agricultores que lidam com o tabaco no campo também enfrentam problemas. Isso porque o mero contato da pele com a folha do tabaco pode intoxicar uma pessoa.
Então, é preciso ser cauteloso ao preparar comidas usando o tabaco e também ao consumi-las. Fica o nosso alerta 😉
Cozinhando com tabaco
Em primeiro lugar, sim pode parecer estranho aos ouvidos falar de tabaco como ingrediente para comidas. Mas, precisamos lembrar que o tabaco não só serve para fazer cigarros, sendo uma planta versátil.
Além disso, o uso do tabaco em alguns tipos de alimentos não é novo.
Por exemplo, em 2012, a empresa de refrigerantes Ice Cream Bar Soda Foutain, resolveu desenvolver um novo sabor chamado Passion Project. Esse novo refrigerante é base de chai, xarope, creme e um ingrediente exclusivo para finalizar: o tabaco.
Mais de 10 anos se passaram e, de lá para cá, o refrigerante Passion Project se tornou uma experiência gastronômica para os moradores de São Franscisco, estado onde está localizada a fábrica, e um verdadeiro sucesso de vendas.
O restaurante americano Morris House Bistro produz uma farinha feita de tabaco que, mais tarde, é usada para empanar cebolas e fritá-las.
Já a confeiteira Naomi Gallego, faz uma infusão do açúcar no tabaco para preparar seus bolos e doces.
E ainda, há o exemplo da chocolataria de Londres, Artisan du Chocolat, que utiliza folhas inteiras de tabaco em algumas das suas barras de chocolate.
Por que se usa o tabaco como ingrediente?
Os chefs que adicionam tabaco aos alimentos muitas vezes procuram tirar proveito de um perfil de sabor mais complexo. O chef de Los Angeles, Robert Lu, começou a infundir tabaco em sua comida por capricho, criou sorvetes, panna cotta, crème brulée, creme, além de pato e frango defumados.
Porém, é claro, a coisa mais importante que qualquer pessoa que cozinha com tabaco precisa perceber é que exagerar pode ser tóxico. A nicotina vem naturalmente como parte da planta do tabaco, e o excesso é maléfico.
É necessário implementar medidas preventivas para evitar que uma quantidade excessiva de nicotina penetre nos alimentos.
A equipe do Ice Cream Bar (que mencionamos mais acima) faz a tintura de tabaco e borrifa um pouco sobre o refrigerante já pronto para que o tabaco ainda esteja lá, mas não em nível tóxico. Outro método é deixar as folhas de tabaco de molho durante a noite, assim a água retira toda a nicotina e toxinas. Depois, jogue fora a água, enxágue as folhas, seque-as e adicione à comida.
Muito além do upcycling de tabaco
Verdade seja dita: sabemos que o produto mais produzido com o tabaco é o cigarro, que altamente poluente. Toda essa poluição vem, principalmente, dos restos do cigarro já acendido e fumado. Ou seja, a famosa bituca.
Se eu te perguntasse agora qual é a forma mais comum de lixo plástico, o que você diria? Garrafas pet? Canudos?
Todos esses palpites são bons, mas não são a resposta correta. As bitucas são, na verdade, a forma mais abundante de lixo plástico no mundo, com cerca de 4,5 bilhões delas espalhadas no meio ambiente.
Você pode estar se perguntando agora: Mas as bitucas não são feitas de papel? Surpreendentemente, a resposta é não. As bitucas de cigarro são feitas principalmente de plástico.
Upcycling de bitucas de cigarro
Essa não é a primeira vez que falamos sobre upcycling de bitucas de cigarro, já falamos sobre tijolos feitos com bitucas aqui.
De lá pra cá novas soluções surgiram, é o caso da Code Effort Private Limited, de Naman Gupta e Vishal Kanet, dois empreendedores indianos que percebendo o grande volume de pontas de cigarro descartadas todos os dias, decidiram criar uma solução que ajudasse o meio ambiente.
Apesar de vir da folha do tabaco, as bitucas de cigarro são compostas por 95% de plástico, elas levam cerca de 12 anos para se degradarem. Dessa maneira, a Code Effort cuida dos 3 componentes encontrados: o acetato de celulose, a cobertura de papel, e as sobras de tabaco.
O acetato de celulose é triturado, tratado quimicamente com composição química biodegradável e transformado em produtos premium como almofadas, bichinhos de pelúcia, decoração etc. O papel que cobre e o tabaco são triturados e transformados em repelentes de mosquitos e esterco.
A partir de 2022, a Code Effort passou a processar 30 toneladas de bitucas de cigarro por mês. A empresa pretende movimentar 45 toneladas de bitucas de cigarro por mês.
Lâmpadas de bitucas
A High Society Studio é uma empresa italiana que também serve como exemplo de como enxergar no resíduo uma oportunidade de criar e lucrar com sua criação.
Aqui, o principal foco é criar lâmpadas à base de plantas através da reciclagem de resíduos como cânhamo e o tabaco.
Que tal um cinzeiro de bolso
Para quem fuma nem sempre é possível estar com um cinzeiro ao lado para impedir que as bitucas acabem poluindo o ambiente, concorda?
Mas e se houvesse uma forma de ter sempre um cinzeiro bem no seu bolso?
A Biatikí foi a empresa que pensou e criou essa solução.
Os chamados eco-cinzeiros são produzidos de forma artesanal e usando matérias-primas como o bambu, madeira e até mesmo cortiça. Sim, aquela usada no vinho, por exemplo.
Uma segunda chance
O ideal é parar de fumar, mas se este não for o seu caso, dê a chance desses resíduos ganharem nova vida!
Fontes: The Guardian Earth Day, SCMP, Trend Hunter, Vegconomist, World Heath Organization, EurekAlert, Expose Tobacco