Um novo dispositivo chegará ao mercado num futuro breve. Sua função é a de fazer com que você sinta gosto de chocolate enquanto come brócolis, por exemplo. O ‘Taste Buddy’ parece perfeito, mas não é. Vou te contar aqui o porquê.
Adoro novidades e não quero ser a estraga-prazer, mas vamos lá. O dispositivo atende pelo nome ‘Taste Buddy’ (traduzindo, “o amigo do gosto”). O professor Adrian Cheok, professor de computação pervasiva da City University of London e diretor do Instituto Imagineering, da mesma universidade é o líder do grupo de cientistas e engenheiros que trabalhou na criação dele. Só para esclarecer, a computação pervasiva tem como objetivo integrar a informática com as ações e comportamentos naturais das pessoas (para saber mais sobre o vocabulário da inovação, acesse o nosso Dicionário).
Mas afinal, o que é o ‘Taste Buddy’? Trata-se de um dispositivo de 2cm que deve ser colocado na boca. Ele emite uma corrente elétrica suficiente para estimular as papilas gustativas da língua e com isso fazer com que você sinta determinados sabores. Por exemplo comer um bife de tofu e sentir gosto de um legítimo steak de carne ou mesmo comer brócolis e sentir gosto de chocolate.
A intenção é boa, segundo o professor, um dispositivo como esse vai permitir que as pessoas levem estilos de vida mais saudáveis e consigam seguir dietas. Também seria indicado a crianças, para que comam vegetais. Mas, o que seria um estilo de vida saudável? Comer é muito mais que a mera ingestão de carboidratos, proteínas e lipídeos, é sim um ato social e cultural. Se privar de um brigadeiro em um aniversário não é saudável assim como se entupir de brigadeiros todos os dias também não é. Há ocasião para comer brócolis e tofu e outra para comer um bom bife e um chocolate apreciando a comida e sem que precisemos “enganar” nosso paladar.
Devo frisar que o dispositivo tem sua utilidade, mas vejo muito mais potencial para ele num hospital, levando mais qualidade de vida a um paciente, melhorando seu paladar, do que a uma criança que faz birra para não comer legumes. E ainda mais, prevejo que a maior venda de um aparelho como esse será para as mulheres que conseguirão manter dietas restritivas por muito mais tempo, se empanturrando de brócolis enquanto sonham com chocolate.
Não acredito que possamos enganar o corpo por muito tempo, ele é mais esperto do que pensamos. Ficam alguns questionamentos: em quanto tempo nossa língua acostumaria com os pequenos choques elétricos do aparelho? Precisaremos de descargas elétricas cada vez mais fortes para ter o mesmo efeito? Criaremos uma dependência em que daremos choques em nossas línguas antes de cada refeição?
Por enquanto o ‘Taste Buddy’ é apenas um protótipo. A equipe estima que demorará cerca de 20 anos até que uma versão comercial seja lançada no mercado. Sua versão atual só permite realçar sabores salgados e doces, mas espera-se que o leque de estímulos aumente e que o dispositivo possa ser acoplado a utensílios como talheres ou copos ou até mesmo implantado na boca (lembra da definição do que é computação pervasiva no início deste post? Então, é aqui que ela se aplica).
Em vez de demonizar alimentos e enganar nossos corpos, que tal buscarmos o equilbrio e comer de tudo um pouco? Deu até vontade de comer uma pizza…de brócolis!
Referências: Inverse, Mixed Reality Lab, Hypeness, USP, Não sou exposição, Brazilian Journal of Nutrition