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Inovação ou charlatanismo? A moda da água crua

água crua

A água crua está fazendo sucesso nos Eua. Segundo os entusiastas, a água que bebemos é contaminada por produtos químicos, então eles oferecem o produto sem tratamento. Saiba aqui no Eat Innovation porque você deve ficar fora dessa.

Quando eu soube desse novo produto, pensei por três dias se devia escrever sobre isso aqui. Não que eu queira evitar uma boa discussão, mas porque esse tipo de produto precisa de tudo menos publicidade. Em tempos de terra plana e anti-vacinas, é mesmo perigoso que água não-tratada seja considerada uma inovação.

Enfim, optei por escrever porque a notícia finalmente chegou à mídia brasileira, não tardará a surgir os entusiastas do assunto (medo!) e o melhor antídoto para a ignorância é partilhar conhecimento, então vamos ao que interessa?

Água crua

Água viva? Não, não é dessa que este post trata!

Do que estamos falando?

Resumidamente estamos falando sobre raw water, traduzida como água crua ou água bruta. Trata-se de água sem qualquer tratamento, vendida numa loja na Califórnia, a Rainbow Grocery, a “iguaria” atende pelo nome de Live Water e custa cerca de 20 reais (em média 6 euros) o litro e vem de uma nascente em Culver, no Oregon.

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O preço salgado da água que fica verde em um mês. O nome é sugestivo: fonte da verdade.

O produto pegou embalo com o movimento “consciência da água”. Segundo o fundador da empresa, Mukhande Singh, usando um filtro de osmose reversa, você terá água esterilizada, mas será uma água morta, por isso que a água crua fica verde se não for consumida em até um mês, tempo de um ciclo lunar (é sério!). Ele também afirma que a água pública está envenenada.

Christopher Sanborn, o fundador, prefere ser chamado pelo nome que adotou, Mukhande Singh, seu nome de guru.

Não custa esclarecer: o governo e a indústria de alimentos não querem matar você. Esqueça as teorias da conspiração, pense pelo lado mais simples: você consome produtos e paga impostos. Por que eles quereriam matar a fonte de lucro?

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A busca por uma água pura não é de hoje, há diversas teorias contra o flúor e o cloro que se adicionam à água do sistema público. Por conta disso produtos como esse florescem e lucram em cima de pessoas desesperadas pelo saudável. Na Liquid Eden, uma loja de água de San Diego, há uma gama de opções que inclui até água alcalina de  “eletrólitos minerais”, eles já vendem mais de 900 litros de água por dia.

Outras startups do gênero surgiram nos últimos anos, é o caso da Tourmaline Spring e da Zero Mass Water, ambas nos Eua. A primeira comercializa água crua engarrafada e a segunda vende um sistema completo de quase 5 mil dólares para obter 10 litros de água por dia diretamente do ar atmosférico. A demanda é tão alta que a Zero Mass arrecadou 24 milhões de dólares em capital de risco.

Tourmaline Spring

Tourmaline Spring

Zero Mass Water e seu CEO, Cody Friesen

Quais os riscos do consumo de água crua?

  1. Basicamente há o risco de contrair qualquer doença veiculada pela água, inclusive cólera e E. coli. E esse é o maior motivo.
  2. Há uma propaganda enganosa, os benefícios atribuídos ao produto não são comprovados e as crenças que guiaram o fundador à criação da empresa são dignas das melhores tramas de filmes de ficção. Ele acredita que a água do sistema público possui anticoncepcionais entre outras crenças também sem fundamento. É apenas pseudociência.
  3. As regras para a venda de água engarrafada são impostas por cada estado, há um limite aceitável de produtos químicos e bactérias, mas a Tourmaline Spring conseguiu uma isenção em seu estado e por isso afirma que está dentro da lei e de fato está. E a segurança do consumidor? De quem é a responsabilidade caso alguém ingira água contaminada?
  4. A nomenclatura é incerta, alguns chamam de água crua/bruta outros preferem água viva, água de verdade e até mesmo água não-processada, o que dificulta o entendimento do consumidor e ainda reforça a idéia de que processados são ruins e não-processados são bons, são naturais, que é como são tratados os alimentos hoje.
  5. Pensando friamente como gestora a inovação, para ser considerado inovador o produto precisa ser melhor que as alternativas existentes e neste caso não é, pelo contrário, é pior.
  6. Ainda falando sobre inovação, um dos maiores defensores da Live Water é Doug Evans, criador do já falido Juicero (analisamos o caso Juicero e os motivos que levaram à sua ruína neste post aqui).

Não há nada que impeça adultos de comprarem todo tipo de enganação, há quem compre até ar em potes (isso também é sério, veja a notícia aqui), então quem quiser desafiar a sorte, saiba bem os riscos que corre.

Será mesmo que correr um risco tão grande pode ser considerado saudável?

Referências: TecMundo, Business Insider, The New York Times, Time, Jornal Nacional, Grub Street, Forbes, Indian Times

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