Em novembro de 2015, o município de Mariana, em Minas Gerais, no Brasil, foi devastado por lama tóxica, resultante do desabamento de duas barragens.
32,5 milhões de metros cúbicos de resíduos de minério de ferro foram arrastados, o que destruiu toda a comunidade. Este foi o pior desastre ambiental do país e alastrou-se por mais de 500 km do local do desabamento da barragem, chegando ao litoral do Estado do Espírito Santo. A tragédia, além de destruir a região, ainda deixou mais de 20 mortos e milhares de famílias desalojadas.
Estima-se que a recuperação de toda a área afetada, demorará no mínimo 10 anos.
Agora, dia 5 de novembro de 2023, fazem 8 anos que essa tragédia aconteceu. Por isso, nesse post iremos te contar como a área tem sido recuperada, como a impunidade ainda corre solta e porque esse dia não pode ser esquecido.
8 anos depois: pouco foi feito
Pois é, apesar de estarmos nos aproximando de uma década desde que o desastre de Mariana aconteceu, muito ainda precisa ser feito para devolver o mínimo de reparo àqueles que foram atingidos.
De acordo com o levantamento da Assessoria Técnica Independente em Mariana, pelo menos, 1246 famílias foram forçadas a deixar suas casas em decorrência do rompimento da barragem do Fundão. Comunidades inteiras foram deslocadas, como é o caso de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo.
Porém, até o ano passado essas pessoas ainda não foram realocadas em novos terrenos ou casas e continuam na luta por moradia digna. As obras estão ainda em andamento e as autoridades se apressam a culpar a pandemia pelo atraso. Mas a pandemia começou em 2020, certo? E a tragédia aconteceu em 2015. Estranho, não é?
A Fundação Renova, a responsável pelas reparações, até agora, só entregou 29 residências aos moradores de Bento Rodrigues.
Além disso, apenas em agosto de 2023, a escola municipal da cidade voltou a funcionar. Sendo que o terreno para reconstrução da escola estava disponível desde 2016.
Por isso, que muitas pessoas tem recorrido à bondade e solidariedade de pessoas comuns, ou seja, pessoas que fazem o que as autoridades estão deixando de fazer.
O projeto Tijolos de Mariana é um exemplo disso.
Tijolos de Mariana: a lama e os rejeitos viram material de construção
Na sequência desta tragédia, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e os alunos de Laboratório de Geomateriais e Geotecnologia da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em parceria com a agência de publicidade Grey Brasil, iniciaram o projeto Tijolos de Mariana.
Assim, o objetivo é transformar a lama da tragédia em matéria-prima limpa e atóxica para a produção de tijolos artesanais. O que permite a reconstrução de casas para os desalojados.
Como os tijolos de Mariana são feitos
Os tijolos são fabricados de forma artesanal, a partir dos resíduos deixados pelas barragens. A iniciativa produz cerca de 1000 tijolos por mês. No entanto, para ampliar a produção, foi iniciada uma campanha de financiamento coletivo, criada no Kickante.
Assim, este movimento pretende que o dinheiro arrecadado seja usado para a construção de uma fábrica, capaz de dar escala industrial ao projeto. Estima-se que em apenas um ano, 700 toneladas de lama sejam retiradas, o que resultará em 1,2 milhões de tijolos.
As etapas de fabricação destes tijolos consiste em: retirar a lama; filtrar, transformar os resíduos num composto limpo e atóxico, produzir os tijolos através de um processo ecológico, reconstrução e venda.
Além disso, os tijolos também serão vendidos em lojas de materiais de construção de todo o país. O que irá gerar empregos e desenvolver a economia de toda a comunidade afetada. Este projeto não é financiado pelo governo e nem por empresas mineiras.
Por isso, a contribuição da sociedade é ainda mais importante. Não deixe a tregédia cair no esquecimento.
PS: Artigo originalmente escrito em 28/04/2016 no site Noctula Channel, editado e publicado aqui em 05/11/2023.
Referências: El País, G1, Aedas, Ecofossa, Estado de Minas Gerais